Estava Quase

Estava quase.
Ela podia sentir isso dada à proximidade do seu pensamento.
Como ela podia não se ver ali?
O que mais precisava ser dito?
Naquele momento, as palavras poderiam confundir ao invés de explicar.
E algumas coisas definitivamente não se explicam.
A pele dela tocando a minha, parecia ter a exata proporção da intimidade consentida.
Estava quase.
Mas isso era um código quase imperfeito para se decifrar.
O cheiro dela se misturando ao cheiro do ambiente,
Demarcava um território que só ela poderia contemplar.
Jardins suspensos.
Ela sentia o meu cheiro e se fazia dengosa diante dele.
O mínimo toque e ela paralisava.
Estava quase.
Mais um pouquinho e estaria consumado.
O desejo tinha cheiro adocicado e de cores diversas.
Me fazia de cego, mas seu olhar gritava em uma melodia que as vezes precisava ser disfarçada.
Como ela poderia não entender? Ela ria, mexia nos cabelos, jogava-os para trás numa clara timidez de quem não tinha mais o que dizer.
O sussurro seguinte era para distrair o desejo.
Estava quase.
Se dependesse dela, não diria.
Porque tudo o que dissesse poderia ser usado contra a sua inocência naquele momento.
Ela bem que queria perder as rédeas e todo o juízo que ainda restava naquela cabeça de vento.
Não era a louca varrida?
E o desejo não estava na pele dela como tatuagem?
Cruzei o braço sobre a sua cabeça, falei algo ao seu ouvido e sua cabeça dobrou.
Sonhei com você.
Soltou quase monossilábica. Hummm. Foi?
Pode contar, ou é segredo?
Estava quase.
Eu contaria.
Se pudesse ouvir.
Te tocaria se pudesse sentir.
A sua ansiedade era tanta que o seu coração poderia ser ouvido de longe,
Mas talvez ela não conseguisse ouvir.
Ou talvez, os preconceitos dela se surpreenderiam com o que guarda o meu coração que compreende a intensidade da lua,
Quando ela se esconde onde ninguém mais vê.
Bem que poderia contar o meu sonho.
Mas ai o que estava oculto perderia o calor do segredo e do desejo que quase a toca, quando ela pensa em dormir.
Estava quase lá.