sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Desejo-Te


Deslizando sobre os fios do meu pensamento, correm nas lembranças os gestos, os gostos e o cheiro do teu ser que ainda está em mim. Freneticamente entrando, como um profundo parafuso adentrando o seu ambiente, mistura-se com tantos sentimentos e atitudes, desbrava todos os limites que me constituem, crescendo, enraizando-se nas paredes do meu lar, absolutamente dependente do ar que eu respiro pra sobreviver. Adentra, finda em mim o cálice de vinho derramado por suas demonstrações de amor, aquela dança, aquele toque, aquele carinho, aquele pulso atraente que nos unia a meia luz na nossa sala, os corpos tépidos e ao mesmo tempo cruzados em uma linha só nossa, tudo em seu tempo, toques síncronos, arrepios suaves e mais tarde incontroláveis, engloba, contextualiza o estrago que fizeste em minha constituição, porque mandas, governas sobre minhas atitudes e gostos, como um cão pedindo alimento, como uma criança clamando por leite, eu suplico seu amor, sua devoção e seu tato inexplicável. Quero, necessito do seu doce, ou até do amargo, do seu sussurro, do seu abraço, dos instantes felizes de quebras de silêncio, ou até mesmo das faltas das palavras, da maneira como me dominas e me transforma em parte de ti. Contorcendo-me, enlouquecendo-me, jogando todos os nãos pra fora e deixando entrar todas as afirmativas que me fazem ser apenas seu e de mais ninguém, enroscando os fios do seu cabelo em meu rosto e minhas pernas em suas pernas, nossos gostos em paralelo e depois perpendiculares constantes, a estampa, o pulsar, o frio, o calor, me encontro e começo em ti, me rasgo e termino em teu mar, sendo carregado por essa eterna inconstância que cativa o meu eu e meus instintos mais discretos, pois somos complexos e logo completos. Paradigma, instrução de dúvida e certeza, lição só nossa, olhares penetrantes e atraentes, mordidas, palavras, ações, se encaixando e formando esse vício em nossas veias, que nem as mais sábias ideias que nos formam são capazes de entender, então nos atiramos, nos jogamos na incerteza imortal do universo, como estrelas que brincam em dois únicos céus, os da nossa boca, até atrair súplicas e carências involuntariamente para si e para seu encaixe, compartilhando, penetrando, doando, devolvendo e aplicando em uma magia ou ânsia, que explode e queima em meu peito toda vez que te amo.

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