quinta-feira, 14 de junho de 2012

Devaneio


Onde foi que me perdi?
Onde estão os meus sonhos?
E minhas fantasias?
Onde eu fui parar?
Só tenho cacos, frangalhos, pedaços...
Acho que sou uma farsa, uma hipocrisia que prega ser complexa e controversa só porque não sabe como virar dia
Vejo veias, marcas e rugas, sinto-me velho
Muito mais de espírito do que supõe minha derrocada aparência
Não tenho mais aquela alegria
Descompromissado
Que fazia tudo valer a pena sem pensar nas conseqüências
Agora o peso da idade, das responsabilidades caem sobre mim de uma forma onerosa para minha armadilha
Torno-me amargo, frio, irritado, angustiado, mau-amado...
Cada lágrima carrega o peso do impreciso sofrimento que carrego no peito
Meio sem jeito elas são contadas, doídas, esperadas, acompanhadas de todas as dores mal sentidas
Não sei mais quem sou, pois não sei onde quero chegar, nem que sonhos ter
Tenho medo que me pergunte o que eu vou ser quando crescer
Eu não me basto e essa tentativa desenfreada de preencher-me do outro
Para ocupar-me de algo, faz-me perceber que eu preciso de algo além de mim para saciar-me
Procuro e não acho
Não ocupo, encho-me de decepções, perdas e frustrações que coleciono
Por querer preencher-me com algo além de mim
Firo-me o ego, a auto-estima, pouco de orgulho ferido vislumbrando um castigo por algo que nunca tive culpa
Pois que culpa tenho?
De precisar do amor para viver?
E não falo da amada e sim do amor
Ele que me traz qualquer coisa de viver, de ser feliz, de respirar, de acordar, de anoitecer
De tanto ser só, tenho medo da solidão que me traz certa fobia, de qualquer companhia
Já me tiraram tanto, roubaram-me tantos sonhos, que agora não durmo com medo de pesadelos
Em que mostrem o espelho de um futuro sem presente, muito passado
Eu finjo que está tudo bem, que eu só me basto, mas isso é uma farsa de um ator mirim que nunca encenou nada
Não sou ninguém e sou todo marcado, por cada esperança minha tirada, cada perda não chorada e cada amor derrotado
Não sei onde me perdi, nem onde me achei... Nem tenho essa auto-suficiência imposta que muitos vêem em mim
Sou mais frágil que o seu pensamento, mais forte que o meu pensar, maior que tudo isso
Sou uma confusão
Não quero guardar mais nada em meu coração, quero é outro combustível pra viver
Cansei de preencher vazio com amor, isso só traz dor
Vou expulsar todos os fantasmas
Não quero mais lembranças das presenças, muito menos das ausências
Quero recomeçar mesmo sem ponto de partida ou referência
Pois culpei muito aos outros, agora é hora de pensar em mim, em tudo que deixei pra lá
Inclusive nos erros que tentei camuflar
Eu quis sufocar toda a minha vida, todo o meu vazio, todas as minhas perdas com sorrisos tristes e friezas inventadas
Agora cobram a conta dessa farsa inacabada
Vou continuar com minha dor, minhas marcas, perdas... Mas não quero que esqueça, que estou lutando mais do que pareça
Para ocupar-me de mim mesmo e não hei de deixar essa tristeza ocupar-me mais do que algumas horas com certeza
Eu calei, pensei, sufoquei, chorei, precisava dessas verdades para medir minha vida
Não se precipite, nem eu tirei conclusões ainda
É que a xilocaína só faz efeito pra garganta e não pra o coração...
Enquanto não acho a medida, vou contando os passos e os atos desse cenário imaginário de uma vida real...

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